terça-feira, 24 de abril de 2012

UMA LIÇÃO... DE FRANCÊS!


Por Eduardo Nuno Ribeiro (*)

Poucas horas depois do fecho das urnas da primeira volta das eleições presidenciais francesas, independentemente do resultado final, há uma importante lição a tirar. Não uma lição política, não uma lição de economia, mas uma lição de cidadania e de democracia.
Nicolas Sarkozy arrisca-se a inscrever o seu nome na História da França como o único Presidente da República, em 30 anos, a não ser reeleito para um segundo mandato.
Tal “feito” será certamente fruto de dois factores: as políticas de austeridade por si desenvolvidas e, mais importante, o processo de escolha de François Hollande para candidato do Partido Socialista francês.
Senão veja-se. O afastamento dos cidadãos da classe política que os representa é desde há muito transversal em toda a Europa. Este fenómeno é consequência do fosso entre as altas esferas de decisão e as bases que as sustentam, sejam estas nacionais ou partidárias.
Relembre-se que depois da queda catastrófica de Strauss-Kahn, François Hollande foi escolhido a partir de uma base alargada de cidadãos (mais de 2,6 milhões) que, genericamente, tiveram apenas de disponibilizar de 1€ do seu próprio bolso e com isso escolher aquele que julgaram ser o melhor candidato socialista.
Esta é a diferença. Este é o retomar dos princípios da democracia. A noção de representatividade e de influência. É a falta destes dois factores que tem originado a completa alienação de mais de 40% de eleitores do processo democrático em Portugal e que se reflecte na indiferença dos militantes dos partidos políticos quando são chamados a tomar decisões internas.
É neste contexto que surge, a nível local, a Candidatura do Dr. António Braga à Comissão Política Concelhia bracarense do Partido Socialista. A assunção do objectivo inicial da intenção de ser candidato à Câmara Municipal de Braga numa posição clara, inequívoca e transparente, personaliza o que muitos, há muito, esperam dos seus líderes.
Note-se que António Braga é, até ver, o único que assumiu claramente esse objectivo não se conhecendo por parte de qualquer outro militante uma posição oficial quanto ao facto de ser, ou de apoiar, outro candidato, tentando fazer crer que as duas situações não estão relacionadas e com isso protelar a sua decisão para momento mais “oportuno” em função exclusivamente dos seus interesses individuais.
Este é o motivo pelo qual esta é a “chamada”. É a chamada à decisão de todos os envolvidos no processo, que têm o privilégio de ter uma palavra a dizer para o futuro do Partido Socialista bracarense e consequentemente para a nossa cidade.
É necessário romper com a recondução sistemática, baseada, não no debate de ideias ou projectos, mas exclusivamente numa lógica fechada de continuidade tradicionalista que por si só não se justifica.
É importante que o processo democrático siga o seu curso natural e que cada um exerça individualmente o seu voto livre, estando para isso na posse de todos os dados e factores, com a consciência de que o seu voto não é um “favor”, um “jeito”, um “pedido”, ou até uma “obrigação moral”, mas sim algo de muita responsabilidade que pode influenciar o futuro colectivo de uma cidade de que todos nos orgulhamos.
Talvez num futuro próximo possamos seguir o exemplo do Partido Socialista francês, que, ao contrário do que alguns socialistas bracarenses advogam, com a abertura à sociedade ganhou uma legitimidade nunca antes alcançada, assim como uma responsabilidade acrescida com o alargamento e partilha de ideias e ideais.
“Liberté, Egalité, Fraternité”! É o lema da República Francesa, adoptado pelo Partido Socialista português. Afinal, França, não é assim tão longe.


(*) Texto de opinião publicado esta quarta-feira, 25 de Abril, no "Diário do Minho".

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